Era uma noite que prometia ser calma e tranquila na velha Roma. Estávamos animados para vivenciar o Natal em família, assistir à missa do Papa e desfrutar de um delicioso jantar em um restaurante próximo ao Vaticano, La dolce Vita!! Mal sabíamos que seríamos protagonistas de uma verdadeira comédia italiana.
Após a missa emocionante, repleta de cantos angelicais e incenso perfumado, estávamos prontos para nos deliciar com um banquete de sabores no restaurante. Afinal, eu, como a matriarca da família estudante de gastronomia na Itália, estava ansiosa para compartilhar com todos o meu amor pela culinária.
No entanto, ao voltarmos para o carro, fomos surpreendidos por uma cena deplorável: os vidros da nossa van haviam sido estilhaçados. Parecia que tínhamos acabado de entrar em uma cena de filme de ação! E olha que nem precisamos pagar ingresso...
Dentro da van, a desordem era absurda. Malas com queijos, trufas, vinhos, pasta, pães e utensílios de cozinha espalhados por todo lado. Parecia que um furacão havia passado por ali. E o pior de tudo? Os ladrões roubaram uma sacola minha da Apple. Você deve estar pensando: "Ah, uma sacola da Apple, certamente tinham produtos valiosos dentro." Mas, na verdade, a sacola continha apenas... vitaminas! Imagina a decepção dos ladrões ao descobrirem que haviam roubado um estoque de suplementos vitamínicos em vez de eletrônicos caros. Parece até uma pegadinha de um programa de TV!
E como se não bastasse, o passaporte do meu filho Francisco foi levado junto com a sacola das vitaminas. Toda a minha paciência em adverti-lo sobre não deixar o passaporte no carro pareceu ter sido em vão. Francisco não poupou em me culpar, dizendo que os ladrões viram a sacola da Apple e decidiram levar sua mochila por engano. Bem, pelo menos terão uma saúde de ferro com tantas vitaminas!
Com o carro destroçado e o passaporte desaparecido, percebemos que não teríamos outra opção senão pernoitar em Roma. Afinal, uma van sem janelas não é exatamente o veículo mais apropriado para pegar a estrada. Ligamos para a polícia, mas descobrimos que todos estavam ocupados com a ronda do Papa. Parece que os ladrões não foram os únicos a terem uma noite movimentada!
Após uma busca desesperada, avistamos um hotel no horizonte. Nosso salvador! O concierge, com uma aparência sonolenta e desajeitada, parecia ter saído diretamente de um filme de comédia. Ele nos informou, com um tom engraçado e sotaque italiano carregado: "Mi dispiace, ma o estacionamento não funciona mais à essa hora. Scusa!"
Não pudemos deixar de brincar com a situação e perguntamos, com um sorriso no rosto, se a van poderia passar a noite dentro do hotel.
Imaginem só a cara do concierge se deparando com uma van dentro do saguão do hotel, como se fosse um elefante branco deslocado. O humor italiano é realmente inigualável!
Finalmente, conseguimos nos acomodar no quarto. Francisco, pronto para tomar um banho revigorante, mal teve tempo de se despir quando a campainha tocou. Uma voz no corredor nos avisou: "Vocês precisam trocar de quarto." Minha filha e genro gargalhavam, enquanto Francisco, enrolado na toalha como se estivesse indo para uma sauna turca, carregava malas pelo corredor rumo ao novo quarto. Ah, as aventuras de uma família desafortunada em terras estrangeiras!
No dia seguinte, caminhamos para a delegacia. Para nossa surpresa, fomos recebidos por um policial napolitano de coração amigável. E, como era de se esperar, a conversa logo se voltou para comida. Ele nos disse, com entusiasmo e sotaque acentuado, que não poderíamos deixar Roma sem experimentar a melhor pizza da vida, a verdadeira pizza napolitana.
Com um brilho nos olhos e as mãos gesticulando freneticamente, ele nos indicou a pizzaria Salvatore DI MATTEO, famosa por suas premiações e selos de autenticidade. Seguindo suas recomendações, decidimos que esse seria o último presente de Natal para nossa família peculiar.
Chegamos à pizzaria e fomos recebidos pelo aroma tentador de massa fresca e ingredientes deliciosos. O lugar estava repleto de risadas e conversas animadas. Parecia um verdadeiro carnaval de sabores. Sentamos à mesa, e aí começou o espetáculo.
Cada mordida naquela pizza nos levava a Nápoles, à tradição e à paixão pela culinária italiana. Nossos rostos se contorciam em expressões de prazer enquanto o queijo derretia em nossas bocas. Risadas irrompiam a cada mordida, misturadas com pedaços de tomate e manjericão. Era uma festa para os sentidos e uma bênção disfarçada.
Enquanto saboreávamos aquela deliciosa refeição, agradecemos ao assalto, afinal, sem ele, jamais teríamos tido o prazer de descobrir esse tesouro gastronômico. Francisco, mesmo tendo que enfrentar a burocracia de tirar outro passaporte, estava radiante. Agora, ele seria um verdadeiro Francesco, com um passaporte italiano feito na Itália!
Chegou o momento de voltarmos para Assis, na nossa van completamente aberta, sem janelas e parecendo um vendaval ambulante. Éramos como marinheiros em alto mar, lutando contra ventos impiedosos. A cada curva, parecia que seríamos puxados para fora da estrada. Mas, em vez de reclamar, decidimos abraçar a situação e rir ainda mais alto.
E assim, entre risadas estrondosas e um vento desafiador, voltamos para Assis. Uma viagem que poderia ter sido um desastre transformou-se em uma jornada de aventura e risos. Afinal, a vida é imprevisível, e são esses momentos caóticos que nos fazem valorizar ainda mais os presentes inesperados que ela nos reserva.
Que Natal peculiar tivemos em Roma! Uma mistura de ironia, contratempos e uma pizza divina. E mesmo com os vidros quebrados e o passaporte perdido, nunca esqueceremos a alegria contagiante e as gargalhadas que ecoaram nas ruas da Cidade Eterna. Uma noite inesquecível em uma Itália cheia de vida, surpresas e um humor incomparável. Buon Natale a tutti!
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